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Deltan cita "ambiente de pressões" como pano de fundo de demissão coletiva na Lava Jato

Datena

Deltan Dallagnol, ex-coordenador da Lava Jato em Curitiba, acredita que a demissão coletiva dos procuradores da força-tarefa de São Paulo anunciada nesta quarta-feira pode ter sido incentivada pelo "ambiente de pressões e retrocessos" enfrentado pela operação. No pedido enviado ao procurador-geral da República, Augusto Aras, os colegas argumentaram "incompatibilidades insolúveis com a atuação da procuradora natural dos feitos da referida força-tarefa, Dra. Viviane de Oliveira Martinzes".

"Toda força-tarefa tem um promotor que chamamos de 'procurador natural', o procurador originário responsável pelo caso investigado. Em Curitiba, eu sou o procurador responsável originalmente pela Lava Jato. Como o caso era muito grande, houve a designação de outros procuradores de outros lugares para trabalhar comigo. Aí passamos a trabalhar em equipe. Como sempre funcionou em Curitiba? Nossas decisões sempre são conjuntas, democráticas, estou no mesmo nível dos demais. Sempre tomamos decisões colegiadas. Caminhamos como um time", disse em entrevista na Rádio Bandeirantes.

"Em São Paulo, no começo do ano houve troca do procurador originário, e o novo originário é um procurador que tem uma visão completamente diferente da equipe. Ele não participou de reuniões de negociações de acordos, reuniões sobre operações, reuniões com delegados... Ele ficou separado do grupo. O grupo não se integrou. Não existiu atuação conjunta, democrática. Até que a equipe chegou ao ponto de dizer que era incompatível, que não havia condições para prestar um serviço público dessa maneira. E as pessoas são voluntárias, podem pedir desligamento. Foi isso que aconteceu. Agora, claro, o ambiente de pressões e retrocessos pode ter servido como um incentivo a mais e ter sido o pano de fundo que os levou a tomar essa decisão."

Saída de Deltan da Lava Jato

O Ministério Público Federal informou nesta terça (1º) que Dallagnol deixaria a força-tarefa. Em vídeo postado na internet, o procurador explicou que a filha, de 1 ano e 10 meses, apresentou sinais de regressão no desenvolvimento e que, deixando o cargo, pretendia dedicar mais tempo a ela.

"Depois de anos de dedicação intensa à Lava Jato, eu acredito que é hora de me dedicar de modo especial pra minha família", afirmou na ocasião. "Eu vou continuar trabalhando como procurador da República, mas aquelas horas extras que eu investi em noites, finais de semana e feriados, eu vou precisar focar na minha família."

Embora eu tenha desconfiado um pouco dessa justificativa familiar, Deltan me confirmou que essa é mesmo a verdade.

"Existe uma grande pressão contra a Lava Jato e o combate à corrupção, sim. Mas a minha razão de saída é 100% guiada por uma necessidade da minha família. Eu tenho sonhos, como todo mundo. Um deles é ter um país menos corrupto. Por isso contribuí com isso nos últimos seis anos. Dediquei noites, finais de semana, feriados, trabalhando 16 horas por dia."

"Agora, eu tenho três filhos e, nesse momento, minha mais nova teve uma série de sinais identificados de problema de desenvolvimento. Se isso for tratado agora, pode fazer diferença na vida dela. Para você ter ideia: o médico recomendou que a gente faça 40 horas de terapias semanais, sendo 15 em clínicas e 25 dentro de casa. Vou ter que estudar esse assunto, fazer treinamento. Sabendo disso, acho que você tomaria a mesma decisão. Existem vários procuradores que podem fazer um trabalho competente na Lava Jato, mas pai da minha filha sou só eu."

O escolhido para assumir suas funções foi o procurador da República no Paraná Alessandro José Fernandes de Oliveira.

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