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"Vista grossa" do Coren-SP com fiscalização em hospitais é criminosa

Datena

Essa denúncia é uma barbaridade. O repórter investigativo Agostinho Teixeira teve acesso a áudios em que enfermeiros revelam que fiscais do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) estão sendo orientados a fazer "vista grossa" a irregularidades cometidas dentro de hospitais.

Os enfermeiros que procuraram a Rádio Bandeirantes disseram que encaminharam denúncias ao Coren-SP envolvendo prescrição de medicamentos vencidos a pacientes internados e reutilização ilegal de materiais que deveriam ser descartados, como alguns usados para exames de endoscopia e colonoscopia. Dá para acreditar? Em plena pandemia do coronavírus!

Bom, não sei nem por onde começar. Como o Agostinho bem lembrou, o Coren-SP é autarquia federal. Ou seja, trabalha com dinheiro público e tem a obrigação de zelar pelo trabalho e pela estrutura fornecida a enfermeiros.

Sem contar que isso tudo acontece em um momento em que o Brasil atinge mais um triste recorde com o maior número de enfermeiros e enfermeiras mortos vítimas da covid-19. Já são 320. Fora os mais de 30 mil que estão contaminados.

Um dos enfermeiros que conversou com a reportagem – que trabalha no litoral e pediu para não ser identificado por medo de represálias – explicou como o esquema funciona. Segundo ele, as denúncias são feitas, mas os fiscais nunca aparecem. Quando (raramente) aparecem, os responsáveis pelos hospitais ficam sabendo antecipadamente qual será o dia e o horário da vistoria para que consigam maquiar as irregularidades.

"A gente fica sabendo antes quando vai ter a fiscalização e organizamos tudo o que precisa ser organizado. Aí o Coren-SP passa por lá rapidamente e não vê nada errado. É muito constante isso. Já passei pessoalmente por essa situação diversas vezes. Depois da vistoria, volta tudo ao ‘normal’. É completamente absurdo."

"Os desmandos da pandemia nós só vamos ver depois. Estamos pagando um preço muito alto. Eu mesmo peguei covid-19. Fiquei 28 dias muito mal. Cheguei a me despedir de familiares, repassar senha de banco. Muitos colegas morreram. A posição do conselho quanto a isso também tem sido ínfima. Com essas irregularidades, aumenta demais a proliferação do coronavírus e de todos os outros vírus. Reutilizar um material que, segundo a Anvisa, precisa ser de uso único é uma atitude criminosa. Essa é a palavra."

Diretor do Coren-SP se revolta

Nós também mostramos no ar outro áudio em que Jefferson Caproni, tesoureiro do Coren-SP, conversa com uma enfermeira e se revolta com a situação.

"Eles [Coren-SP] não querem que fiscalizem nada. Estão fazendo de tudo para isso. Eu mesmo pedi as escalas dos fiscais e não me deram! Estou sendo voto vencido todos os dias. Os caras não deixam, mesmo eu sendo diretor! Os caras fazem de tudo para que eu não possa atuar. Os caras estão se vendendo!"

Não preciso falar mais nada. Isso é crime contra a saúde e crime contra a humanidade. E vem sendo feito há muito mais tempo. Já deve ter provocado a morte de muitos enfermeiros e médicos. Quando se utiliza o mesmo equipamento obviamente a contaminação vai ser muito grande. Quantas pessoas já não devem ter morrido ao fazer um simples exame?

Isso é caso de polícia – e o Ministério Público tem que entrar. Quem está devendo já pode começar a temer. Não vamos largar esse osso.

CONFIRA A REPORTAGEM AQUI: