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Bolsonaro defende voto impresso para "fortalecer sociedade miliciana", diz Freixo

Datena

O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) disse nesta quinta-feira (12) à Rádio Bandeirantes que o presidente Jair Bolsonaro insiste em defender o voto impresso para "fortalecer uma sociedade miliciana". De acordo com o parlamentar, o debate funciona também como "cortina de fumaça" para esconder os problemas sociais e econômicos que se agravaram com a pandemia, assim como as suspeitas de irregularidades envolvendo compra de vacinas investigadas pela CPI da Covid.

"Quando você olha o Bolsonaro falando, rude, ignorante, estúpido, sem preparo, pode achar que não tem estratégia ali, mas tem. Precisamos falar sobre isso. A pauta de duas semanas atrás era a pauta da vacina da CPI da Covid, do desvio de verba e da propina. De repente, a pauta virou o voto impresso. Não foi por acaso. É estratégia. Ele quer criar uma cortina de fumaça, desviar a atenção para que a gente não fale da fome, do desemprego, dos ladrões de vacina que tomaram conta do governo. Ele cria um debate falso. A ideia de que ninguém é confiável, de que o sistema não presta", disse Freixo.

"Desde quando ele foi antissistema? Foi deputado por 30 anos, um deputado medíocre que nunca participou de uma comissão e nunca apresentou um projeto. Agora virou antissistema? Ele fez a gente passar um mês debatendo voto impresso. Já imaginou em uma área de milícia, onde ele tem muitos aliados? Em uma área de tráfico? Imagina a milícia chegar para um morador e falar 'olha, o voto é impresso e você vai votar em fulano de tal' Acabou a democracia de vez. Ele quer fortalecer uma sociedade miliciana e desviar nossa atenção", completou.

Ainda comentando os recentes trabalhos do Congresso, Freixo comemorou a votação da noite desta quarta (11) no Plenário da Câmara dos Deputados que rejeitou a proposta conhecida como "distritão".

"Essa semana foi importante, derrotamos o voto impresso e o distritão. O distritão só fortaleceria o centrão. Faria com que mais parlamentares do centrão fossem eleitos. E o centrão é complicado. Se alimenta de um presidente fraco. Bolsonaro gosta de gritar, principalmente com mulher, o que é típico de um covarde, mas é fraco. O centrão faz o que quer com ele. Está aí o Ciro Nogueira entrando no governo."

Desfile de tanques e Forças Armadas

De acordo com o deputado, o desfile de blindados realizado nesta semana em Brasília foi mais uma amostra da "fraqueza" do governo federal. A passagem dos tanques aconteceu na manhã da última terça (10) e foi transmitida ao vivo nas redes sociais do presidente. Embora o destino fosse o CIF (Campo de Instrução de Formosa), onde é realizado anualmente um treinamento da Marinha, o trajeto na Praça dos Três Poderes (onde ficam Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal) não costuma ser feito.

O desfile aconteceu no mesmo dia em que a Câmara se preparava para votar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 135/19, que estabelecia o voto impresso.

"O que Bolsonaro faz às Forças Armadas é ruim para o Brasil e ruim para as Forças Armadas. Ele as expôs ao ridículo. Insistir naquela apresentação, que nunca tinha acontecido, com tanques que soltavam mais fumaça do que qualquer outra coisa, foi uma exposição vexatória. As Forças Armadas não merecem isso. Mas, como o governo não tem resultados, precisa gerar crises. Esse é o projeto do bolsonarismo."

"É por isso que já falei aqui que a eleição de 2022 será a eleição mais importante da nossa historia. A eleição de 2022 será um plebiscito da Constituição de 1988. Ela dirá em que país queremos educar nossos filhos. Um país com lei, instituições, democracia, que constrói futuros ou um país no caos. É uma eleição para reafirmarmos a democracia."

Caso Marielle Franco

Amigo e aliado de Marielle Franco, Freixo voltou a falar sobre a morte da vereadora e mais uma vez cobrou repostas concretas das investigações. Ele afirmou que "não tem dúvidas" do envolvimento das milícias e do miliciano Ronnie Lessa, já preso pelo assassinato, mas disse que falta a polícia chegar nos mandantes do crime.

"Já são três anos. É inacreditável como uma vereadora do Rio de Janeiro, em pelo século 21, é covardemente assassinada e estamos aqui, três anos depois, falando que o caso ainda não foi concluído. Não é porque ela era minha amiga, não importa (...). Eu não tenho a menor dúvida do envolvimento da milícia no caso da Marielle. Nenhuma dúvida do envolvimento do Ronnie Lessa. Mas temos que saber quem é o mandante. Que grupo político fez isso? Por quê? Temos que saber."