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Caos poderia ter sido evitado se governo tivesse nos ouvido, diz pesquisador da Fiocruz Amazônia

Datena

O epidemiologista Jessem Oerellana, pesquisador da Fiocruz Amazônia, disse nesta sexta-feira (15) à Rádio Bandeirantes que o caos vivido atualmente no Amazonas, com hospitais superlotados, falta de oxigênio e recordes de internações e mortes por covid-19, poderia ter sido evitado se o governo local tivesse ouvido as recomendações das autoridades sanitárias.

"Em uma palavra: a situação é caótica. O que temos visto de forma geral na narrativa do governo do estado e do governo federal em relação à crise atual é um recorte temporal do que acontece hoje e do que aconteceu ontem e nos últimos cinco dias. Mas o cenário de recordes atrás de recordes em hospitalizações de pacientes graves e números de sepultamentos não é de agora", disse.

Segundo o pesquisador da Fiocruz Amazônia, Manaus já entrou na pandemia com duas grandes desvantagens: é a única cidade dos 72 municípios do Amazonas que tinha leitos de UTI em quantidade suficiente e possui 53% da população morando em situações precárias de habitação.

"São dois fatores pré-epidemia que montam o cenário ideal para que, por meio da negligência das autoridades e da população, Manaus se torne a capital mundial da covid-19. Por quê capital mundial? Porque houve essa explosão violenta da disseminação e da mortalidade em dois momentos distintos, na primeira e na segunda onda."

"É interessante notar que, mesmo vivendo esse pico violento, até o presente momento o governo do estado não teve coragem de reconhecer que estamos na segunda onda, imagino que por puro orgulho. Temos avisado as autoridades e os órgãos de controle há meses e ninguém se manifesta. Seguiram negando a gravidade da situação. Fomos 'brindados' ainda com uma nova cepa, resultado de aglomerações desnecessárias que ocorreram em novembro e dezembro e poderiam ter sido evitadas se tivessem ouvido nossas manifestações."

Amazonas deixa "lição para a humanidade"

Segundo Dimas Covas, diretor do Butantan, a CoronaVac, vacina contra covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o instituto, deve receber aprovação para uso emergencial no Brasil até o próximo domingo (17). O mesmo pode ocorrer com o imunizante de Oxford produzido pela Fiocruz.

"Tudo indica que, havendo autorização de uso emergencial no próximo domingo, quando está marcada uma reunião pública na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com diretores, as vacinas estarão disponíveis. Temos 6 milhões de doses prontas, na prateleira, ansiosas para seguirem caminho em direção aos estados e municípios. Havendo essa autorização, a vacinação deve se iniciar o mais rapidamente possível. Depende da distribuição do Ministério da Saúde. Pode acontecer no início da próxima semana", disse o diretor aqui ao blog.

Para o pesquisador da Fiocruz Amazônia, porém, ainda há muitas incertezas em relação à vacinação, motivo pelo qual as medidas de distanciamento social e as normas de higiene ainda são as melhores armas contra a disseminação do vírus.

"Temos muitas incertezas com a vacinação e a influência de novas mutações. Embora seja pouquíssimo provável [que as vacinas não funcionem com mutações], não tem como descartar essa possibilidade por completa. Então, se não temos recursos médicos e hospitalares, se não temos medicação para prevenir e tratar a doença e se não temos certezas com a vacinação, a única alternativa continua sendo as medidas não-farmacológicas. Se não entendermos isso, continuaremos mergulhados no caos e o mesmo vai acontecer em outras cidades. O Amazonas deixa uma lição para o Brasil e toda a humanidade: não façam o que nós fizemos."