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"Em duas ou três semanas, SP não terá mais leitos de UTI", diz Marcos Boulos

Datena

Foto do Hospital de Campanha de Heliópolis, na inauguração em maio
Foto do Hospital de Campanha de Heliópolis, na inauguração em maio

O infectologista Marcos Boulos, integrante do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, acredita que, se o número de contaminações por covid-19 continuar crescendo no ritmo atual, o estado e outras regiões do país devem ficar sem leitos de UTI em duas ou três semanas.

"A situação está muito ruim. Está aumentando demais o número de casos no Brasil e em São Paulo, em particular. Estamos prevendo que, se continuar nessa velocidade de crescimento, em duas ou três semanas não teremos mais leitos de UTI para internar os pacientes. Vamos chegar naquela crise que aconteceu na Itália onde você precisa decidir quem vai mandar para UTI e quem vai deixar morrer sem atendimento. Vamos ter que estabelecer critérios. É uma coisa absurda, brincar de Deus. Isso devido ao aumento intenso em contaminações, muito maior que no começo da pandemia. A situação é dramática", disse nesta quinta-feira (21) à Rádio Bandeirantes.

Segundo o infectologista, embora o início da vacinação no país seja necessário, ela não vai ajudar a reduzir a crise nos atendimentos médicos neste momento.

"Precisamos da vacinação, mas, mesmo que estivéssemos vacinando, existe um tempo para a população ficar imune. Não conseguimos vacinar todo mundo agora. Ela é para amenizar o problema. Infelizmente, diferente de outras infecções por vírus, o coronavírus não dá uma imunidade grande em grande intensidade. As pessoas têm se reinfectado, tem aparecido cepas que se disseminam mais. Não estamos conseguindo só deixar a história natural controlar a doença. A vacina dará mais imunidade que a doença, o que não é comum. Então vamos precisar da vacina, sim, para acabar com a covid-19, mas neste momento ela não vai ajudar na situação de atendimento médico no país e em São Paulo."

O principal motivo do aumento no número de casos, mortes e superlotações de hospitais e UTIs, de acordo com Boulos, é o crescente desrespeito de parte da população às medidas sanitárias. As recomendações seguem focadas em manter o distanciamento social, lavar as mãos com frequência, passar álcool em gel e, principalmente, usar a máscara de proteção corretamente quando sair de casa.

"As pessoas estão deixando de acreditar e seguir as recomendações. Acúmulo de pessoas em praias, reuniões. Não dá para entender. Acham que é brincadeira, não dão valor à vida. Brincam com roleta-russa. De repente o tiro acerta, tem bala de verdade. Damos o recado, mas não querem ouvir, gostam de viver em risco (...). Só teremos vida normal quando chegar o platô da vacinação."

O Centro de Contingência do Coronavírus repassou os alertas à equipe do governador João Doria. Nesta sexta (22), o governo deve fazer uma nova reclassificação do Plano São Paulo.

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