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"Governantes investiram em estádios e não em hospitais", critica médica do Amazonas

Datena

Alcione Reis, médica de Parintins (AM) que se recuperou da covid-19 após ser transferida e receber tratamento fora do estado, narrou nesta segunda-feira (8), à Rádio Bandeirantes, a situação "desesperadora" vivida pelos profissionais de saúde e pelos moradores do Amazonas durante a segunda onda da doença.  

Alcione trabalha na linha de frente desde março, quando o coronavírus chegou à cidade. De acordo com ela, embora tenham estoque de oxigênio, muitos municípios do interior sofrem com falta de hospitais e, principalmente, falta de leitos de UTI.

"Eu vinha me protegendo, mas, nesse novo ciclo de colapso da pandemia, o número de pacientes aumentou muito. O hospital da cidade ficou superlotado e no Amazonas só temos leitos de UTI na capital. No interior não existe, só alguns semi-intensivos. Os pacientes daqui ficam na fila de espera da capital. Trabalhamos assim, damos um jeito para que consigam sobreviver. Não é fácil. Os profissionais estão adoecendo, a demanda é muito grande. Muitos colegas morreram", disse.

"Hoje temos pacientes espalhados pelo Brasil inteiro. Curitiba, Natal, São Luís. Graças a Deus, a FAB e a gestão da Secretaria de Saúde Municipal tiveram a capacidade de transferir, mas a fila continua muito grande por leitos no estado inteiro. É desesperador ver pacientes aguardando e morrendo na fila. Os profissionais de saúde trabalham da forma mais eficaz possível, dando tudo para que cheguem vivos aos leitos. É estressante, exaustivo, não temos insumos necessários. Esse é o Brasil profundo. Precisamos de mais cuidados e investimentos (...). Os governantes aqui investiram em estádios de futebol e não em hospitais", completou.

Segundo Alcione, Parintins não enfrenta falta de oxigênio neste momento porque a gestão local comprou uma usina que foi instalada no hospital local antes do colapso no estado. O grande problema é falta de hospitais e falta de leitos.

"Por isso começaram a transferir pacientes a outros estados, inclusive eu. No dia 15 de janeiro fiquei doente e precisei de leito, como vários que estavam em macas em corredores (...). E essa variante é mais potente. Evolui rápido, mata rápido. Atinge criança, jovem, idoso. Eu tive 4 dias de sintomas e 40% de comprometimento pulmonar. Uma falta de ar de não conseguir ir ao banheiro sem oxigênio. A doença é muito perigosa. Tenho a oportunidade de estar viva, muitos não tiveram", contou.

Mesmo com sequelas da doença, incluindo cansaço com pequenos esforços e fortes dores nas costas, a médica pretende "voltar ao trabalho e fazer o melhor à população". "Mas todo mundo tem que colaborar. A única forma de evitar [a disseminação da doença] agora é com o isolamento social. Muitas pessoas não entenderam e continuam se aglomerando como se o vírus não existisse. Tem que haver colaboração de todos mundialmente", concluiu.

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