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Projeto da USP já enviou 40 respiradores de baixo custo a Manaus

Datena

Não é só de notícias ruins que estamos vivendo nesta pandemia do coronavírus. Marcelo Zuffo, engenheiro e coordenador do Projeto Inspire da USP (Universidade de São Paulo), contou nesta quarta-feira (20) à Rádio Bandeirantes que, desde a última sexta, o grupo já desenvolveu, fabricou e enviou 40 respiradores de baixo custo a 9 hospitais de Manaus, capital que enfrenta um colapso no sistema de saúde devido à segunda onda da covid-19.

"Montamos uma rede de 150 pesquisadores, além de outros profissionais. No começo da pandemia, em fevereiro, estávamos acompanhando o colapso no sistema de saúde italiano. Havia uma falta crônica de ventiladores, as pessoas morriam pelos corredores dos hospitais. Aí começou um movimento mundial de fazer ventiladores de emergência, equipamentos improvisados para que as pessoas não morressem. A Poli (Escola Politécnica da USP) e outras entraram no movimento. Desde então estamos continuamente, com vários parceiros, desenvolvendo e fabricando", disse.

"Na semana passada estávamos em contato com Manaus, antecipando o colapso, e, com um movimento rápido do povo paulista, conseguimos na sexta mandar 26 ventiladores e ontem mandar outros 14, totalizando 40. Já foram distribuídos em 9 hospitais. No domingo, com apoio da TAM, embarcamos para lá também o professor Raul Gonzáles Lima, especialista da Poli, para ensinar os intensivistas a operar os equipamentos."

De acordo com o engenheiro, as equipes envolvidas têm capacidade de montar de 50 a 100 respiradores por semana. Seguindo os padrões da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), todos precisam ser testados após a produção.

"Equipamento de guerra"

Marcelo Zuffo explicou que o equipamento desenvolvido pela equipe da USP foi criado como um "equipamento de guerra" e, embora Manaus seja o foco atual, os respiradores podem ser enviados futuramente a outras cidades.

"Pensamos em criar um equipamento de guerra, já que estamos vivendo em situação de guerra. Imaginamos isso: como vamos fazer uma arma para salvar vidas com o que já temos? Isso foi muito legal. Uma galera da Santa Efigênia ajudou muito, recebemos diversos materiais sem pagar. Conseguimos beneficiar plástico em Guarulhos, alumínio em São Bernardo, adesivos na Freguesia do Ó, chips em Atibaia... Fizemos conexões no estado e no Brasil, com apoio da Marinha também. Isso mostra que o país tem estrutura, só precisamos nos organizar e ter espírito público para fazer o que tem que ser feito."

Outra característica importante do equipamento da USP é que ele usa menos oxigênio que os respiradores comuns. De acordo com o professor Raul Gonzáles Lima, enquanto os usuais utilizam a pressão do próprio oxigênio para movimentar os ventiladores, os do Projeto Inspire funcionam com energia elétrica.

"O que acontece é que alguns ventiladores usam a pressão do oxigênio para movimentar o ar misturado com oxigênio. Mesmo que o paciente não precise de tanto, usam tudo para movimentar o ventilador. Isso não acontece com nossa tecnologia. Uma coisa é fluxo de ar, outra é oxigênio. Eles são dosados independentemente. Com nossa tecnologia, enviamos ao paciente o oxigênio que ele realmente está precisando, e a movimentação é feita por corrente elétrica."

Falta de recursos públicos

Marcelo Zuffo disse ainda que, embora lamente a falta de recursos públicos destinados nos últimos anos a esse e outros projetos da universidade, os recursos privados aumentaram significativamente.

"As universidades são depósitos de conhecimento, e São Paulo tem a maior concentração de universidades da América Latina. Nessas horas, o conhecimento tem que ser colocado em prática. Escolhemos o nome Inspire para inspirar pesquisadores a se unirem e deu certo. Hoje ele não está só limitado ao Brasil. Temos reconhecimento internacional por essa iniciativa, espero que isso continue depois da pandemia", declarou. "Para quê existem as universidades públicas? Não recebemos dinheiro só para ensinar e fazer testes. Temos que dar suporte a vacina, ventilador, qualquer meio de preservar vidas."

"2020 foi nosso pior ano em recursos públicos. Nem na época do impeachment do Collor tivemos tão pouco recurso para pesquisa. Me emociona ver as dificuldades dos jovens cientistas que escolheram pesquisar no Brasil. Colocamos dinheiro do nosso bolso. Mas me orgulho do Inspire porque ele inaugurou nova fase no país com aporte de recursos privados. A ciência brasileira atingiu esse patamar de maturidade. Agora dão dinheiro para fazermos ciência", completou.