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Vacina em 2020? Pesquisador da Fiocruz diz que "expectativa pode gerar grande frustração"

Datena

Voltamos a falar aqui no blog sobre a "corrida das vacinas" contra a covid-19. Embora algumas notícias recentes sobre pesquisas e desenvolvimento sejam animadoras, o pesquisador da Fiocruz Rivaldo Venâncio acha que precisamos ter mais prudência. Em entrevista hoje na Rádio Bandeirantes, ele disse que a possibilidade de termos uma vacina produzida em solo brasileiro e distribuída à população ainda em 2020 é muito pequena.

"Do ponto de vista de fabricação em território nacional, dificilmente teremos uma vacina disponível para ser aplicada em novembro. Pode ser que exista alguma sendo fabricada fora, na China ou na Inglaterra, que seria transportada em seguida para o Brasil. Mas, pensando nas duas fábricas brasileiras com candidatas a vacinas [Oswaldo Cruz e Butantan], é praticamente impossível que tenhamos lotes fabricados aqui em novembro. Se forem transportados de fora, aí sim poderíamos ter."

"De qualquer forma, a criação de uma grande expectativa pode gerar a possibilidade de uma grande frustração. E pode levar a opinião pública a desacreditar de uma ferramenta importante como a vacina. Eu seria cauteloso e apostaria em algo próximo do Carnaval."

Uma dessas "notícias milagrosas" veio do presidente norte-americano Donald Trump. Ainda em tratamento contra a covid-19, ele disse ontem, em um vídeo gravado na Casa Branca, que uma vacina contra o coronavírus deve estar disponível "logo depois da eleição", que acontece no dia 3 de novembro.

Nesse mesmo vídeo, Trump falou sobre o tratamento ao qual ele se submeteu com um coquetel experimental de anticorpos. Ele chegou a atribuir o coquetel – que, vale lembrar, ainda passa por ensaios clínicos – a uma "cura" e afirmou que em breve deve estar disponível "de graça" em "todos os hospitais".

"Temos métodos para comparar a eficácia desses tratamentos. Se eu olho para um grupo de pessoas que tomou o medicamento sem comparar com outro que não tomou, fica difícil se posicionar. Sobretudo com o envolvimento da política, como nesse caso do Trump. Daqui um mês tem eleição... Temos que olhar com cuidado o que já é apresentado como salvação. O que funciona com uma pessoa pode não funcionar com outra", comentou o pesquisador.