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Ex-coordenadora do PNI: População precisa "entender a gravidade" do atraso na vacinação

Datena

A epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, disse nesta quinta-feira (21) à Rádio Bandeirantes que a população brasileira precisa "entender a gravidade da nossa situação" frente ao novo avanço da covid-19 nas cidades do país e ao atraso no plano de vacinação.

A Anvisa autorizou no último domingo (17) o uso emergencial de duas vacinas no país: a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e o imunizante produzido pela Universidade de Oxford com a farmacêutica sueca AstraZeneca e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). A vacinação foi iniciada em São Paulo na mesma tarde. Outras capitais começaram a aplicação no dia seguinte.

O plano de imunização, no entanto, logo precisou enfrentar um grande problema: a dificuldade em importar doses prontas e também insumos para a produção dos imunizantes por aqui.

A epidemiologista, que esteve à frente do PNI entre 2011 e 2019, explicou que Butantan e Fiocruz darão início à produção das vacinas (CoronaVac e Oxford/AstraZeneca) a partir dos insumos importados e, ao mesmo tempo, será feita a transferência de conhecimento tecnológico para que futuramente consigam produzir todo o produto por aqui.

"Esse processo é complexo. Não é pegar uma receita de bolo e colocar na máquina. Tem que validar cada fase. Os dois laboratórios dizem que precisam de pelo menos 6 meses para isso começar, e esse tempo só começa a contar depois que a matéria-prima chegar ao Brasil. Cada vez que isso atrasa, todos os processos atrasam. É uma bola de neve. Enquanto não regularizar a vinda de insumos e conhecimento, não temos nenhuma previsão", disse.

"Infelizmente, mesmo com o cronograma em dia dos dois acordos, demoraríamos pelo menos um ano para conseguir vacinar a maioria da população. É muito tempo. Já perdemos mais vidas com a pandemia no mundo que nas grandes guerras. O problema é grave. A população precisa entender isso. Essa doença não é banal. A população precisa entender a gravidade da situação que estamos vivendo", completou.

Segundo Carla Domingues, o governo do presidente Jair Bolsonaro e a gestão do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, erraram ao negar a importância da vacinação e posteriormente optar por um fabricante em detrimento a outro.

"O governo Bolsonaro não queria começar a vacinação com a CoronaVac e precisou importar doses para começar com a vacina da AstraZeneca. É uma maratona e não uma campanha de vacinação. Infelizmente estamos vendo esse uso político quando precisávamos ter um consenso entre governantes, profissionais da saúde, cientistas e formadores de opinião. A população está dividida, inclusive falando mal de vacinas. Nunca pensei que eu veria isso."