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Fomos atropelados pela Anvisa, diz diretor do InCor sobre vacina de Oxford em grávidas

Datena

Jorge Kalil, diretor do laboratório de imunologia do InCor de São Paulo, disse nesta quinta-feira (13) à Rádio Bandeirantes que os médicos e cientistas que estudam os efeitos da vacina de Oxford/AstraZeneca contra covid-19 em mulheres grávidas foram "atropelados" pela decisão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de suspender a aplicação nesse grupo. Kalil defende que os benefícios da imunização são maiores que os eventuais riscos.

"Observou-se que, em raros casos, essa vacina induz um problema trombótico. Varia de um em cada 100 mil vacinados a um em cada 500 mil vacinados. Um fenômeno extremamente raro. Em uma cidade de 100 mil habitantes, por exemplo, vai ter 1 caso. Em termos de saúde pública, temos que entender que a vacina protege muito. Nós, como grupo assessor do PNI (Programa Nacional de Imunização), discutimos muito tempo e resolvemos imunizar, sim, as grávidas. Por quê? Porque nelas, a cada 100 mil, 20 morrem de covid-19. O risco é muito alto, temos que proteger", disse.

Segundo a Anvisa, a recomendação para suspender a aplicação da vacina Oxford/AstraZeneca em grávidas foi feita após a notificação da morte suspeita de uma gestante de 35 anos no Rio de Janeiro.

"Quando surgiu esse problema no Rio de Janeiro, ninguém sabia se era devido à vacina. Nós ficamos sábado e domingo, apesar de ser Dia das Mães, com pesquisadores e médicos discutindo o que fazer. Na segunda-feira fomos atropelados pela Anvisa, que, sem perguntar para ninguém, cancelou o uso dessa vacina em grávidas. Enfim, toda perda é lamentável, mas perdemos quantas pessoas por covid-19? Bem mais de 400 mil. Em minha opinião, essa vacina é excelente e temos que vacinar (...). Não podemos olhar a exceção, temos que olhar a regra", completou.

Jorge Kalil afirmou que o grupo responsável pelo assunto vai se reunir novamente após mais uma série de estudos e exames e, em seguida, conversar diretamente com a Anvisa para definir os próximos passos.

"É importante ressaltar que não critico nem um pouco a Anvisa. A agência faz um trabalho maravilhoso no combate à pandemia. Os prazos de análise têm sido baixos. Eles têm se esforçado muito. Agora, algumas decisões... não sabemos mais quem vai tomar. Isso é muito ruim. Antigamente, todas as decisões eram tomadas centralmente pelo PNI com um painel de especialistas. Hoje tem município que vai imunizar, outro que não vai. Quem é que está coordenando isso tudo? Precisamos voltar a ter uma coordenação nacional. Isso não cabe a um juiz. Nós estudamos a vida toda para isso", concluiu Kalil.